Toda semana, sem falta, Dona Marilda se senta à mesa da cozinha, lápis na mão, e com um olhar de esperança que só as loterias conseguem despertar. Ao seu lado, um bolo de papelotes coloridos, os bilhetes da Lotomania. Para ela, aquela pequena pilha representa muito mais do que simples pedaços de papel; são sonhos embrulhados com números.

No Brasil, jogar na loteria é quase um ritual. É como tomar café pela manhã ou torcer para o time do coração: faz parte da rotina. E assim como no futebol, há sempre a expectativa de uma virada no último minuto. A cada sorteio, uma nova chance para mudar de vida, para esquecer os boletos acumulados na gaveta da sala e para sonhar com aquela viagem há tanto tempo adiada.

Dona Marilda sabe que as chances de ganhar são pequenas, mas, ainda assim, ela nunca perde a fé. Afinal, alguém tem que ganhar, não é mesmo? E por que não ela? A vizinha da prima da amiga já ganhou um prêmio uma vez — pelo menos é o que dizem — e desde então, essa história se espalhou pelo bairro como se fosse uma lenda urbana.

O rádio na cozinha murmura os resultados enquanto Marilda segura seu bilhete com dedos nervosos. Números são chamados, um por um, cada um carregando a promessa de um futuro diferente.

Quando todos os números foram lidos, ela solta um suspiro que mistura alívio e desapontamento. Não foi desta vez.

Mas não tem problema. No fundo, o jogo é apenas uma desculpa para sonhar. Amanhã ou depois ela estará novamente na fila da lotérica, com seus trocados e sua esperança renovada. Ela acredita que, em algum lugar do destino, seu nome já está escrito como vencedora.

E assim segue a vida de muitos brasileiros, entre esperanças e frustrações semanais, mas sempre com aquele brilho nos olhos de quem nunca desiste de sonhar. Afinal, como diz o ditado: “Quem não arrisca, não petisca”. E Dona Marilda continuará arriscando, porque na Lotomania, como na vida, tudo pode acontecer.