Era um domingo como outro qualquer, e o sol já se anunciava por entre as frestas da janela quando Dona Marta se preparava para ir à feira. Com a bolsa de lona no ombro e a lista de compras na mão, ela descia a rua com passos firmes, mas a cabeça cheia de cálculos.

Na feira, o burburinho era o mesmo: vozes que se misturavam ao som das frutas caindo nas balanças, o cheiro dos pastéis se espalhando no ar e, claro, as inevitáveis conversas sobre o preço do dólar hoje. “Subiu de novo”, comentava o feirante enquanto pesava as bananas. “E quem paga somos nós, né?”. Dona Marta concordava com um aceno de cabeça, pensando em como aquela cotação afetava tanto seu dia a dia.

Não era só o aumento no preço das frutas importadas ou do óleo de cozinha que vinha de longe. Era também a lembrança dos tempos em que sonhava em viajar para fora do país, conhecer outros mundos. Mas cada subida do dólar parecia empurrar esse sonho um pouco mais para longe.

Enquanto escolhia os tomates mais vermelhos, Marta lembrava-se das histórias que ouvia sobre os leilões do Banco Central e como eles prometiam estabilizar a moeda. Parecia algo distante, quase como uma novela que não se entendia bem, mas cujo final importava a todos. No fim, tudo isso se traduzia em centavos a mais na conta do supermercado ou no quilo do arroz.

No caminho de volta para casa, com a bolsa agora mais pesada e os passos um pouco mais lentos, Marta refletia sobre como o mundo estava interligado. O que parecia ser uma simples cotação do dólar influenciava desde o preço do café até os sonhos de conhecer Paris ou Nova York.

Ao chegar em casa, sentou-se à mesa da cozinha e começou a organizar suas compras. Cada item ali era fruto de um planejamento cuidadoso e de renúncias diárias. Enquanto o cheiro do café fresco tomava conta do ambiente, pensou que, apesar dos altos e baixos da economia, o que realmente importava eram as pequenas alegrias do dia a dia — como aquele momento tranquilo na sua própria cozinha.

E assim seguia Dona Marta, vivendo entre as oscilações do mercado e as certezas da vida simples, onde cada domingo trazia consigo não só novos preços, mas também novas esperanças.