Era uma manhã como qualquer outra na casa de Dona Lúcia, mas algo pairava no ar. O rádio, sempre ligado na cozinha, anunciava com sua voz grave: “As cotações do dólar hoje estão…”. Dona Lúcia parou de mexer o café, sua mente viajando para além da janela, onde os sonhos de conhecer Nova York se misturavam com a realidade das contas a pagar.

Os altos e baixos da moeda americana eram como uma montanha-russa sem fim, uma emoção que Dona Lúcia não pedia, mas que vinha incluída no pacote da vida moderna. Cada centavo de variação tinha o poder de transformar seus planos. O dólar turismo, então, era um vilão mascarado, sempre pronto para sabotar suas economias destinadas àquela viagem adiada há tanto tempo.

Na fila do supermercado, a conversa não era diferente. “Você viu quanto tá o dólar?”, perguntava o senhor da frente, enquanto comparava preços de produtos importados. Era como se cada produto na prateleira tivesse uma etiqueta invisível com o símbolo do dólar ao lado do preço em real.

E no meio desse turbilhão econômico, havia os leilões do Banco Central, eventos que pareciam dignos de um filme de ação. “Será que vão conseguir segurar a cotação?”, especulavam os comentaristas na TV. Mas para Dona Lúcia, isso tudo soava como um jogo de cartas marcadas, onde ela pouco podia fazer além de ajustar seu orçamento doméstico e continuar sonhando.

A volatilidade econômica não era apenas números em um gráfico; era a mão invisível que guiava o carrinho de compras, que determinava se o churrasco do fim de semana teria picanha ou linguiça. Era o lembrete constante da fragilidade da economia e do valor intrínseco das pequenas conquistas diárias.

Assim, enquanto o mundo girava em torno do dólar, Dona Lúcia seguia ajustando seus passos. Porque no fim das contas, a vida é feita de sonhos - alguns em real, outros em dólar - mas todos carregados com a mesma esperança de dias melhores.