Ouvimos falar de cotação do dólar hoje como quem escuta o sino da igreja ao meio-dia: um som que já se tornou parte do cotidiano, mas que nunca deixa de carregar sua carga de urgência. É só ligar o rádio ou abrir o aplicativo de notícias que lá está: “Dólar em alta”, “Dólar em baixa”. E, de repente, aquele número abstrato ganha vida nas prateleiras do supermercado, nos planos de viagem adiados e nos sonhos de consumo que parecem se afastar cada vez mais.

É curioso como algo tão distante, uma moeda que muitos de nós nunca sequer seguramos em mãos, pode ter tanto poder sobre nossas vidas. Não é apenas questão de economia; é uma questão de sensações. O valor do dólar sobe, e com ele sobe a nossa ansiedade. Ele desce, e o alívio é temporário, como um suspiro entrecortado.

Penso na minha avó, que costumava dizer: “Dinheiro não traz felicidade, mas acalma os nervos”. Ela viveu tempos em que a inflação era um monstro ainda mais assustador do que qualquer variação cambial. Naquela época, o preço do pão mudava de manhã para a tarde. Hoje, trocamos o susto diário pelas flutuações semanais do dólar.

E há algo de poético em observar como o mercado reage a cada leilão do Banco Central, como se todos estivéssemos em um grande teatro financeiro, onde o público aguarda ansioso pelo próximo ato. Será que vamos aplaudir ou vaiar? Enquanto isso, nas calçadas, nos ônibus e nas filas de banco, seguimos fazendo contas e ajustando os planos.

O dólar é mais do que uma moeda; é um termômetro das nossas esperanças e inseguranças. É um lembrete constante de que estamos todos interligados nessa grande rede econômica mundial. E talvez, no fundo, o que realmente buscamos ao acompanhar as cotações do dólar não seja apenas entender o presente, mas tentar vislumbrar o futuro.

Porque, no fim das contas, como dizia meu pai, “dinheiro é papel pintado”, mas o impacto que ele causa na vida brasileira é real e sentido por todos nós. Entre altos e baixos, seguimos navegando nesse mar de incertezas econômicas, buscando sempre um porto seguro onde possamos ancorar nossos sonhos.