Naquela terça-feira chuvosa, Dona Marinalva já estava com o rádio sintonizado antes mesmo do café esfriar. Na mesa da cozinha, espalhados entre pães de queijo e um bolo de fubá, estavam os bilhetes da Lotofácil de hoje. “Vai que hoje a sorte bate à porta”, pensava ela enquanto traçava com o lápis os números que sonhara na noite anterior.

A cultura das loterias no Brasil é um misto de esperança e superstição. Quem nunca ouviu falar do vizinho que ganhou sozinho na Mega-Sena e foi morar em Miami? Ou do primo distante que joga sempre os mesmos números porque um dia sonhou com eles? Para muitos, a Lotofácil é mais que uma simples aposta; é um ritual, quase um exercício de fé.

No botequim da esquina, Seu Joaquim já tinha a sua combinação infalível: “É tudo questão de matemática”, dizia ele, embora ninguém soubesse explicar exatamente como seus cálculos funcionavam. “Se der certo, largo tudo e vou abrir minha pousada em Paraty”, prometia aos amigos que riam e torciam em silêncio para que um dia ele acertasse.

A verdade é que a cada semana, a expectativa se renova. Quando os números são finalmente sorteados, há sempre aquele instante de silêncio seguido pelo suspiro coletivo: seja ele de alívio ou frustração. E assim, entre risadas e apostas, segue a vida.

Dona Marinalva, ao final daquela manhã, não viu seus números aparecerem no resultado Lotofácil. Mas nada abala sua determinação. “Semana que vem tem mais”, disse ela, com um sorriso confiante. Afinal, a sorte pode demorar, mas não falha. E até lá, a vida continua com suas pequenas certezas e grandes sonhos.

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