A noite se estendia sobre nós como um manto bordado de promessas e mistérios. O ar estava impregnado de uma expectativa quase palpável, como se cada brisa trouxesse consigo segredos sussurrados pelas estrelas. Era a noite da chuva de meteoros, aquele fenômeno que, por algumas horas, transformava o céu num espetáculo de luzes dançantes.

Lembro-me da primeira vez que presenciei uma chuva dessas. Eu era criança e estava deitado no quintal da casa dos meus avós, no interior. Meu avô, com sua voz grave e serena, apontou para o céu e contou histórias de índios que acreditavam que cada meteoro era uma flecha disparada por Tupã, o deus do trovão. E ali, sob aquele céu iluminado por faíscas celestes, minha imaginação voou mais alto do que qualquer estrela cadente.

Hoje, tantos anos depois, ainda sinto aquela mesma fascinação. Talvez porque, em meio ao caos do cotidiano, o vislumbre de um meteoro nos lembre da vastidão do universo e da nossa ínfima presença nele. É um convite à introspecção, a um silêncio interno que só é interrompido pelo “ooh” coletivo quando uma estrela risca o firmamento.

Naquela noite, eu não estava sozinho. Pessoas se reuniam em praças, terraços e praias para testemunhar o mesmo espetáculo. Havia algo de poético nessa comunhão silenciosa. Todos olhando para cima, esquecendo por alguns momentos das pequenas preocupações terrenas.

Lembro-me de uma frase de Carlos Drummond de Andrade: “No meio do caminho tinha uma pedra.” E penso que, na nossa jornada, às vezes há também estrelas cadentes. Elas não estão ali para obstruir nosso caminho, mas para iluminar nosso olhar, abrir nossa mente para novas possibilidades.

Assim, sob o céu estrelado, percebo que essas noites são mais do que um evento astronômico. São uma celebração da curiosidade humana, do desejo incessante de entender o desconhecido. E enquanto observo as estrelas caírem como lágrimas de luz, sinto-me conectado a gerações passadas e futuras que também erguerão os olhos em busca de respostas e inspiração.

A chuva de meteoros termina, mas a lembrança fica. E ao voltar para casa, sob o céu agora tranquilo e silencioso, levo comigo a certeza de que sempre haverá algo além das nuvens a nos guiar.