Na manhã em que o ciclone subtropical Biguá anunciou sua chegada, a cidade acordou diferente. O céu, normalmente azul e sereno, carregava um manto de nuvens pesadas que se moviam como uma dança descompassada. As ruas, vazias de gente, eram preenchidas pelo som do vento assobiando entre as frestas dos prédios.

Para muitos, a previsão do tempo não era apenas uma notícia, mas um lembrete da força incontrolável da natureza. A rádio local transmitia recomendações: “Esteja preparado, mantenha-se seguro.” Nas redes sociais, mensagens de apoio e informações práticas circulavam com velocidade. Havia uma tensão palpável no ar, mas também uma corrente invisível de solidariedade.

Enquanto o vento ganhava força, Dona Cida, moradora antiga do bairro, recordava outros tempos. “Já vi muita coisa nessa vida, minha filha”, dizia ela para a jovem vizinha que havia se mudado há pouco tempo. “Mas cada tempestade nos ensina algo novo.” E assim, na simplicidade de suas palavras, Dona Cida transmitia a sabedoria de quem já enfrentou muitas batalhas com a natureza e aprendeu a respeitá-la.

Lembro-me de quando era criança, em noites de tempestade, meu pai nos reunia na sala e contava histórias de coragem e superação. Ele dizia que as tempestades não vinham apenas para destruir, mas também para limpar e renovar. “Assim como nós precisamos de um banho depois de um dia difícil”, ele dizia sorrindo, “a Terra também precisa lavar suas dores.”

O ciclone Biguá trouxe consigo ventos fortes e chuvas torrenciais. Árvores caíram, telhados foram arrancados, mas também trouxe algo mais: a lembrança de que não estamos sozinhos. Em cada esquina, um sorriso solidário; em cada janela iluminada, a certeza de que juntos podemos enfrentar qualquer adversidade.

A tempestade passou, deixando suas marcas visíveis e invisíveis. Mas nas ruas reerguidas pela força do trabalho comunitário, via-se também o renascimento da esperança. Como o canto dos pássaros ao amanhecer após uma noite tempestuosa, o espírito resiliente do povo brasileiro se reafirma a cada desafio.

E assim seguimos, dançando com os ventos da mudança, aprendendo com cada ciclo de destruição e renascimento. Pois é nas tempestades que descobrimos nossa verdadeira essência: a capacidade infinita de nos refazermos e seguirmos adiante.