Naquela noite, o céu do Brasil prometia um show para aqueles que soubessem onde olhar. A chuva de meteoros, anunciada pelos especialistas, já fazia vibrar os corações dos apaixonados por astronomia e despertava a curiosidade dos que, talvez pela primeira vez, levantariam os olhos na esperança de ver algo mais que a escuridão salpicada de estrelas.

Lá estava eu, no quintal da casa da minha avó, cercado pelo aroma inconfundível do milho cozido e do quentão ainda quente. As luzes das velas dançavam ao vento enquanto as conversas se entrelaçavam com risadas e histórias antigas. Era como se as festas juninas tivessem decidido se estender para além do São João, celebrando não apenas os santos, mas também o firmamento.

“Dizem que cada meteoro é um desejo que alguém fez”, minha avó confidenciou, com aquele olhar que misturava sabedoria e travessura. “Antigamente, acreditávamos que as estrelas cadentes eram sinais dos deuses.” Sua voz tinha o poder de transformar qualquer fenômeno natural em pura magia.

E ali estávamos nós, deitados sobre a grama úmida da madrugada, esperando. O tempo parecia suspenso. A cidade ao longe estava quieta, como se respeitasse o silêncio necessário para ouvir a música das esferas celestiais. Quando o primeiro meteoro riscou o céu, foi impossível não sentir um arrepio. Era uma linha brilhante, efêmera como um suspiro, mas cheia de significado.

Pensei nas pessoas ao redor do país, nos sertanejos que olhavam para o mesmo céu em suas noites estreladas, talvez sussurrando orações silenciosas ou simplesmente maravilhados com a vastidão do universo. Pensei nos cientistas nos observatórios, calculando trajetórias e coletando dados, suas mentes aguçadas complementando a nossa admiração quase infantil.

A chuva de meteoros continuou por horas, cada rastro luminoso uma lembrança da nossa conexão com algo maior. Enquanto os últimos brilhos dissipavam no horizonte, senti que éramos todos parte de uma história antiga, onde o céu não era apenas uma tela distante, mas um espelho da nossa curiosidade e desejo de entender nosso lugar no cosmos.

Ao final daquela noite mágica, enquanto os primeiros raios do sol começavam a colorir o céu de laranja, soube que não importava quantas chuvas de meteoros ainda veríamos na vida — cada uma delas sempre traria consigo a promessa de sonhos e mistérios renovados.